Atualização e expansão da análise da organização social dos territórios das metrópoles e a identificação das tendências de transformação de longo prazo - 1980/2000

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Relatório de Pesquisa 2 - Estrutura socioespacial da Região Metropolitana de Porto Alegre em 1991 e 2000

Rosetta Mammarella
Tanya M. de Barcellos
Colaboração:
Iván G. Peyré Tartaruga
Rodrigo Wienskoski Araújo (estagiário)

APÊNDICES

1 Segmentação do espaço metropolitano em 1991 e 2000

Tendo reunido as informações referentes às 25 categorias socioocupacionais e às 156 Áreas de Expansão da Amostra (AEDs) relativas aos 24 municípios considerados para analisar a Região nos dois anos censitários, procedeu-se à aplicação das técnicas estatísticas de Análise Fatorial e Classificação Hierárquica Ascendente[1]. Como resultado, foram identificados 12 grupos de AEDs para 1991 e 13 para 2000, cuja análise detalhada levou em consideração, de modo articulado, os três indicadores[2] apresentados a seguir.

a) Perfil socioocupacional de cada um dos tipos de AEDs, indicador que permite identificar, em cada um dos tipos, quais as CATs responsáveis ou preponderantes para a sua conformação. Esse indicador é o resultado da divisão do número dos ocupados classificados em cada uma das 25 CATs pelo valor total dos ocupados no tipo. Trata-se da estrutura social de cada tipo, que expõe o peso de cada categoria na sua constituição.

b) Distribuição relativa das categorias socioocupacionais segundo os tipos de áreas, com o objetivo de conhecer a distribuição relativa de cada uma das CATs nos 12 ou 13 tipos em que o espaço metropolitano foi hierarquizado. Com isso se pode identificar se há concentração de alguma categoria em um tipo de AED.

c) Índice de densidade relativa das categorias socioocupacionais segundo os tipos de áreas, medida que permite conhecer o significado que tem a presença de cada categoria em cada tipo de espaço (AEDs), frente ao seu significado no conjunto da Região. Essa medida obtém-se dividindo a média de cada CAT em cada tipo pela sua média na RMPA.

Com base nesses indicadores, os grupos foram nomeados segundo suas principais características internas e segundo as diferenciações que apresentam entre si. Conformam uma hierarquia que reúne tipos superiores, médios, operários, populares e agrícola. [3]

As análises da tipologia socioespacial orientaram-se a partir de algumas questões. Certamente, nem todas foram diretamente respondidas, mas elas estão subjacentes às considerações que são feitas na descrição dos tipos abaixo.

Com base na argumentação desenvolvida por Katzman, para compreender as mudanças sociais na globalização, pode-se pensar que está em curso um processo de homogeneização dos espaços de residência? Tal questão é relevante, porque essa homogeneização promoveria aumento da segregação e, obstaculizando o convívio com a diferença, dificultaria, ou até bloquearia, as possibilidades de construção de “parâmetros” positivos para o comportamento de camadas sociais mais vulneráveis (em função do acesso precário ao capital humano e outros benefícios da vida urbana), e também as chances de desenvolvimento de uma solidariedade entre as classes. Nos espaços metropolitanos, o movimento é esse? Em que espaços podemos identificar uma maior homogeneidade e com que clareza ela se expressa. Ou, ao contrário, os espaços aumentam em heterogeneidade (sempre pensando em uma heterogeneidade que ponha em contato, ou proximidade, camadas distanciadas em termos sociais). Ou ainda, como fica a questão das oportunidades de “exemplos positivos” se eles não acontecem no “bairro”, ou na comunidade? Qual o papel da escola e de outras redes na criação de padrões positivos de “comportamento” para as camadas pior situadas na escala social? Como avaliar essas possibilidades?

Tendo em vista o aumento da importância das ocupações “terciárias” em grandes aglomerações urbanas, é possível identificar-se algum tipo de área que apresente densidade dessas ocupações? Ou onde esses trabalhadores se concentram no espaço? Em que tipo de área? Junto com que categorias? Com operários, camadas médias ou populares?

Na configuração de tipos superiores, que categorias são mais importantes? As que acompanham o desenvolvimento de novas necessidades de qualificação, como os profissionais de nível superior, ou categorias mais tradicionais de empregados do Estado? Ainda é importante perguntar-se: o empreendedorismo aparece nessas configurações? Em que conformações os pequenos empregadores têm maior destaque?

Também em relação às configurações médias, que categorias se sobressaem? Considerando que os empregados de escritório — ocupações mais tradicionais — são ainda majoritários, mas tendem a reduzir sua importância com o avanço da informatização, pode-se pensar que os tipos onde são dominantes necessariamente diferem de tipos onde a categoria destacada remete para o papel do Estado (educação, saúde e segurança), ou para o crescimento de ocupações mais técnicas e de supervisão, ou de artistas (que parecem estar mais próximos das ocupações de nível superior — talvez seja uma hipótese a perseguir)?

Os tipos têm perfis distintos conforme a localização, tendo em vista as divisões que o Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos (NERU-FEE) tem adotado? Porto Alegre, RMPA 1 e 2? E, ainda, tendo em vista estarem situados em áreas mais centrais ou mais periféricas?

Qual a importância das categorias operárias em áreas da capital? Isso tem diminuído ou não, visto que a cidade sofre processo de “desindustrialização”, ou de profundas mudanças no seu perfil industrial?

As áreas populares coincidem até que ponto com concentrações de “terreno não próprio”? E as políticas de regularização, sobretudo em Porto Alegre, alteraram a qualidade dos assentamentos?

Qual o impacto das questões demográficas (crescimento populacional, migração, etc.) na explicação das mudanças de tipo nas AEDs?

Feitas essas considerações, é possível apresentar o resultado das tipologias do espaço metropolitano em 1991 e em 2000. Basicamente, para ambos os anos, foram identificados, cinco tipos de grupos de áreas intra-urbanas (AEDs). Cada um desses agrupamentos apresentou nuances em seu perfil social, conformando uma classificação em subgrupos, conforme o Quadro 1 e as Figuras demonstrativas das tipologias de 1991 e 2000 e que serão detalhados na seqüência.[4]

A abordagem da tipologia buscou destacar as peculiaridades existentes dentro de cada grande conjunto e dos subgrupos que os integram, de modo a responder às questões fundamentais que norteiam o estudo das mudanças que ocorreram — ou que estejam em curso — em termos das características socioespaciais da Região.

A visualização gráfica desses resultados, tanto para o ano de 1991 como o de 2000 está na Figura 1, na Figura 2, na Figura 3, na Figura 4, na Figura 5, e na Figura 6. As tabelas contendo o resultado da tipologia encontram-se no Apêndice 2.1 (1991) e no Apêndice 2.2 (2000). O detalhamento estabelecendo a relação entre as 156 AEDs e as 24 CATs, para ambos os anos, contendo os valores absolutos em termos de população ocupada em cada área segundo as categorias socioocupacionais encontra-se no Apêndice 2.3. No mesmo nível de detalhamento: o Apêndice 2.4 traz o perfil médio das AEDs segundo a distribuição dos ocupados nas categorias; o Apêndice 2.5; no Apêndice 2.6 encontra-se o índice de densidade relativa das CATs em cada AED. O Apêndice 2.7 é formado por um conjunto de informações de interesse geral, tais como o código de áreas de ponderação, o label que foi adotado em um ano e noutro, a localização de cada AED tanto a nível municipal como intramunicipal, e algumas informações gerais como o nível de integração de cada município na dinâmica metropolitana, as tipologias socioespaciais e as mudanças ocorridas entre um ano e outro, além de outros dados demográficos extraídos da base de dados dos Censos Demográficos (Questionário da Amostra) dos anos em consideração.

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2 Comparação da tipologia entre 1991 e 2000

Tendo em vista as dificuldades técnicas que impedem uma análise das mudanças ocorridas na estrutura socioespacial num nível mais detalhado, a identificação das mudanças foi feita levando-se em consideração os grandes grupos de tipos que caracterizam cada AED num ano e noutro.

A partir desse critério, foram identificadas as mudanças ocorridas nos tipos de AEDs de 2000 em relação a 1991. O resultado revela que em termos dinâmicos, a RMPA manteve-se relativamente estável, se considerarmos que a maioria das AEDs (60%) não alteram o tipo socioespacial entre um ano e outro. E, em 64% das AEDs, mesmo tendo-se identificado sintomas de mudanças essas não foram extremadas, pois as áreas ascenderam ou descenderam socialmente sem, contudo, mudar de “família” de de tipo. Ou seja, para exemplificar, determinadas áreas que em 1991 eram tipicamente operárias podem ter sofrido alteração com a parmanência de trabalhadores da indústria tradicional mas aumento na densidade da moradia ou dos trabalhadores da indústria moderna (neste caso, a mudança terá sido ascendente), ou na dos trabalhadores da construção civil e domésticos (e, neste caso, a mudança terá sido descendente).

Mas o resultado representado na Figura 7 e detalhado no Apêndice 2.7, configura uma região em que 60 AEDs não mudaram de tipo; 44 permaneceram na mesma família e com movimento ascendente; 20 permaneceram na mesma família e com movimento descendente; 30 mudaram de tipo em sentido ascendente e apenas 2 AEDs sofreram mudanças significativas para pior, ou seja, mudaram de tipo em sentido descendente.

Um conjunto de apêndices que acompanham este relatório contém informações detalhadas sobre cada AED, o que permite explorar ao máximo a complexidade da relação entre estrutura social e estruturação do espaço.

Aliado ao primeiro conjunto de Apêndices acima referidos [5], um segundo conjunto, conforme descrito abaixo, é composto por arquivos em Word, com ilustrações dos tipos de espaços que resultaram da tipologia socioespacial relativo ao ano de 2000.

Essas ilustrações apresentam a delimitação das AEDs, com seus setores censitários em imagem cartográfica, sobrepostas em figuras de satélite e indicação de alguns serviços e equipamentos localizados nas áreas ou em suas imediações. As imagens foram capturadas no endereço http://wikimapia.org, e os serviços e equipamentos foram retirados do Hagah , com acessos a esses sites no período entre outubro de 2007 e março de 2008. A organização, a seleção, e a diagramação das imagens foi realizado pelo estudante de Geografia Rodrigo Wienskoski Araújo, estagiário do NERU-FEE.

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3 Análise comparativa dos tipos entre 1991 e 2000

A seguir será realizada uma breve descrição analítica das tipologias segundo levando em consideração o que denominamos, acima, de “famílias” de tipos, ilustrado por um conjunto de tabelas e pela localização territorial das AEDs de cada “família” de tipos. No Apêndice 2.1 e no Apêndice 2.2 podem ser encontradas todas as tabelas completas relativo às tipologias de um e de outro ano.l

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3.1 Tipos superiores

Questões orientadoras para a análise: há heterogeneidade ou não nos grupos? O que define a homogeneidade: um padrão comum de presença de determinadas categorias em todas as áreas que compõem o tipo? Que categorias definem cada grupo em cada ano? Os artistas vêm junto com os tipos superiores ou não?

O conjunto dos tipos superiores encontrados através da análise estatística reúne, tanto em 1991 como em 2000, dois grupos de AEDs, denominados de tipo superior e tipo superior médio. Correspondem, num ano e noutro, a 13,3% e a 14,9% da população ocupada da RMPA.

Esses agrupamentos apresentam as maiores concentrações e as mais altas densidades de camadas dirigentes e intelectuais, seguidas de pequenos empregadores, e se caracterizam por uma alta homogeneidade social, que pode ser avaliada pela soma da participação das camadas superiores nas estruturas dos tipos superior e superior médio, onde ela supera os 30% e os 20% respectivamente, enquanto na média da Região essa participação não chega a 10%. A homogeneidade fica mais evidente quando se consideram as camadas médias, chegando-se a pelo menos 70% da população ocupada neles residente. Tal cifra é muito significativa quando se observa a participação conjunta dessas categorias na estrutura social média metropolitana, que, nos dois anos analisados, atinge cerca de 40% dos ocupados.

Dentre as camadas médias, são as ocupações de supervisão, as ocupações técnicas e as artísticas que se destacam quando se examinam as densidades.

O que particulariza e diferencia os grupos de tipo superior frente aos de tipo superior médio?

Nos grupos de AEDs de tipo superior, tanto o peso dos intelectuais e dos dirigentes no perfil social do tipo quanto as densidades dessas categorias, são muito mais elevados, chegando a terem uma presença quatro vezes superior à da média da Região. Já nos grupos de tipo superior médio sua presença é o dobro da média no caso dos dirigentes e cerca de três vezes no dos intelectuais. Ao mesmo tempo, as ocupações médias estão melhor representadas nesses últimos agrupamentos.

Além disso, dentre as ocupações médias, a densidade e a participação das ocupações de escritório, mais tradicionais, ficam na média ou abaixo dela no tipo superior, diferentemente do que acontece no superior médio, onde elas têm posição mais destacada.

Que mudanças se verificaram no perfil desses agrupamentos situados no topo da hierarquia socioespacial entre 1991 e 2000?

Aumentaram a densidade, no tipo superior, os grandes empregadores e os profissionais de nível superior, tanto autônomos como empregados. Estas últimas categorias experimentaram também um crescimento na sua participação para a conformação do tipo. Do mesmo modo, os pequenos empregadores cresceram tanto em densidade como em peso nesse grupo.

No grupo de tipo superior médio, apenas os profissionais autônomos de nível superior e os pequenos empregadores experimentaram aumento de densidade. Já na constituição do perfil desse tipo, foram os profissionais autônomos, junto com os empregados de nível superior, que mais intensificaram participação.

No grupo superior, em 1991, as densidades mais elevadas eram exibidas pelos dirigentes do setor privado, que ali estavam representados sete vezes mais do que na média. Em 2000, no grupo equivalente, foram os profissionais autônomos de nível superior que apresentaram a mais alta densidade, desta vez cinco vezes superior à media da RMPA. É importante mencionar que tais densidades são mais elevadas do que as de qualquer outra CAT, em qualquer outro tipo, à exceção dos agricultores, cuja presença no grupo agrícola popular chega a ser 16 vezes superior à média em 1991 e 15 vezes em 2000.

Uma questão deve ser levantada sobre essa mudança de perfil, mais especificamente, sobre a redução da densidade dos dirigentes privados no tipo superior. Observando o nível de concentração da residência desses profissionais nas AEDs de tipo superior, constata-se que, em 1991, ele era elevadíssimo: 43% dos dirigentes do setor privado viviam nessas áreas, cifra que caiu para 17% em 2000. Buscando identificar para que espaços se deslocaram, já que não houve redução da sua participação na conformação da estrutura socioocupacional da Região, verificou-se que ocorreu uma dispersão envolvendo não só outras AEDs da Capital, mas também áreas de outros municípios, como Alvorada, Esteio, Gravataí, Sapucaia do Sul, Triunfo e Viamão.

No tipo superior médio, em 1991, os dirigentes do setor público tinham a densidade mais elevada, quase quatro vezes acima da média, posição que, em 2000, como no grupo superior, passou a ser ocupada pelos profissionais autônomos de nível superior, nesse caso, um pouco mais do que três vezes maior que a média.

Analisando os perfis desses grupos nos dois anos, pôde-se constatar que aumentou a homogeneidade social no tipo superior (a proporção de ocupados enquadrados em CATs superiores, pequenos empregadores, ou médias cresceu de 74,1% para 82,3% entre 1991 e 2000).

Já no tipo superior médio, embora a participação das ocupações superiores tenha aumentado, a queda nas categorias médias deixou um pouco menos homogêneo o agrupamento (em 1991, o somatório de ocupações superiores e médias chegava a 73,5%, caindo para 69,6% em 2000). Ganharam peso nessa configuração os prestadores de serviços especializados.

Ao se examinarem, individualmente, os perfis das AEDs reunidas nesses grupos, observa-se que, no tipo superior, o perfil socioocupacional era mais heterogêneo em 1991, quando a diferença na fatia representada pelas ocupações superiores e médias era mais alta (78,4% no perfil mais homogêneo versus 65,0% no menos). Em 2000, além de haver uma participação em geral mais elevada dessas categorias, a diferença entre a AED mais e a menos homogênea reduziu-se bastante (variação entre 83,1% e 81,3%). Assim, o tipo superior ficou, em 2000, com composição mais homogênea de áreas. Cabe registrar, no entanto, que uma das áreas, a que reúne os Bairros Moinhos de Vento, Bela Vista, Mont´Serrat e Rio Branco, tem um peso muito grande das categorias dirigentes e intelectuais, o que a torna o exemplar mais representativo das áreas superiores. Nela, as CATs superiores, em conjunto, representam mais de 40% dos ocupados.

Considerando o grupo de tipo superior médio, em 1991, na área mais homogênea, a soma das participações das ocupações superiores, pequenos empregadores e categorias médias, era de 76,1% e, na menos, 67,2%. Já em 2000, a diferença foi maior (78,8% versus 54,5%), ou seja, o tipo superior médio ficou configurado como um conjunto mais heterogêneo de áreas, do ponto de vista dos perfis socioocupacionais.

No que diz respeito à localização das áreas dos tipos superiores, verifica-se que tanto em 1991 como em 2000, as AEDs de tipo superior localizavam-se exclusivamente em Porto Alegre, em bairros de tradicional moradia das camadas altas da população, como Independência e Moinhos de Vento. Trata-se de bairros constituídos oficialmente há quase 50 anos, sendo que alguns deles sofreram forte processo de mudança, com grandes investimentos imobiliários e de infra-estrutura a partir das décadas de 70 e 80, como é o caso dos Bairros Petrópolis, Mont’Serrat, Bela Vista, Rio Branco, Santa Cecília e Higienópolis. Essa mudança alterou enormemente a antiga feição de alguns desses bairros, como Mont’Serrat, que foi povoado por escravos recém-libertos, tendo permanecido por muito tempo como área insalubre e pouco valorizada. Também o Bairro Rio Branco, até o início do século XX, esteve ligado à moradia de escravos alforriados, depois libertos, tendo sido, por essa razão, chamado de Colônia Africana durante muito tempo. Aparece, ainda nesse conjunto, o Bairro Bom Fim, que foi área pública até o final do século XIX e se manteve com uma configuração caracterizada por poucas casas, algumas chácaras e sítios e matas nativas. Foi igualmente uma área muitas vezes usada como refúgio dos escravos, que, após a abolição, libertos, ali se abrigaram, quando passou a se chamar popularmente de Campo da Redenção, originando a denominação do parque mais tradicional da cidade e que está situado nesse bairro. Seu desenvolvimento mais recente está vinculado à vinda de famílias judaicas para Porto Alegre que se iniciou na segunda década do século XX. Em função da oferta de vida cultural e de lazer o Bairro Bom Fim ficou caracterizado como espaço da intelectualidade e da boemia da cidade.

As AEDs de tipo superior médio ampliaram-se entre 1991 e 2000. No primeiro ano, estavam concentradas em Porto Alegre, em bairros também tradicionais, como Centro, Floresta, São João, Azenha e Menino Deus. O Centro, embora tenha sido delimitado por lei em 1959, tem uma origem que coincide com o início da ocupação de Porto Alegre. Algumas de suas ruas, como a Duque de Caxias, foram lugar da residência de aristocratas e de camadas dirigentes. Igualmente o Menino Deus, mais antigo bairro da cidade afora o Centro, foi, por muito tempo, já no século XIX, local de moradia para classes abastadas.

Em 2000 passaram a fazer parte desse grupo outros bairros, como Jardim Botânico, que faz fronteira com Petrópolis, e alguns da zona sul, como Vila Assunção, Tristeza, Vila Conceição e Pedra Redonda, que, em 1991, eram do tipo superior, e Ipanema, Espírito Santo e Guarujá, antes do tipo médio superior. Além desses, bairros mais ao norte da cidade, como Três Figueiras, Chácara das Pedras e Vila Jardim, passaram a compor o tipo. Estes últimos constituem configurações em mudança, processo que começou nos anos 80, particularmente a partir da construção do Shopping Iguatemi, inaugurado em 1983, transformando-os em zona de concentração de comércio de alto padrão e moradia de camadas médias e da elite.

Nesse tipo, aparece, ainda, já desde 1991, uma área situada fora do pólo metropolitano, que é o centro de São Leopoldo. Cabe registrar que o perfil social dessa área não mostra diferenças dignas de nota em relação aos demais perfis do grupo. Esse município se constitui em pólo sub-regional da parte norte da RMPA, sub-região que apresenta especificidades em função de sua formação histórica, que engendrou o desenvolvimento de um parque industrial concentrado na produção coureiro-calçadista. Tal situação poderia ter conduzido à formação de uma estrutura diferenciada.

3.2 Tipos médios

Questões orientadoras para a análise: que categorias se sobressaem nessas áreas? Os empregados de escritório — ocupações mais tradicionais —, que tendem a reduzir sua importância com o avanço da informatização, marcam que tipos? E há tipos onde a categoria destacada nos remete para o papel do Estado (educação, saúde e segurança), ou para o crescimento de ocupações mais técnicas e de supervisão, ou de artistas (que parecem mais próximos das ocupações de nível superior — talvez seja uma hipótese a perseguir)?As ocupações “terciárias”, que crescem em grandes aglomerações urbanas, concentram-se, no espaço, em que tipo de áreas? Junto com que categorias? Operários, camadas médias ou populares?

Os tipos médios caracterizam-se por uma combinação de alta densidade das categorias médias com uma densidade ainda forte, mas bem menor do que nos superiores, das camadas dirigentes e intelectuais. Dois grupos diferem desse perfil, apresentando particularidades que merecem ser destacadas. O tipo médio heterogêneo, que só se identifica em 2000 e que poderia ser chamado de médio inferior, reúne, com igual densidade, as categorias médias e os trabalhadores do Terciário, tanto especializado como não especializado. O grupo denominado “médio emergente” tem como peculiaridade a densidade relativamente alta dos dirigentes aliada a uma presença relevante dos trabalhadores do Secundário, particularmente dos operários da indústria tradicional.

No tipo médio superior, é notório o relevo dos dirigentes do setor privado e dos estatutários de nível superior, que exibem as maiores densidades nos dois anos analisados, junto com os professores de nível superior, que, em 2000, cresceram em densidade. Entre as categorias médias, as ocupações de supervisão e as técnicas apresentaram maior densidade em 2000, substituindo as ocupações da segurança pública, da justiça e dos correios e as ocupações artísticas, que em 1991, eram as principais.

O tipo médio, que aparece exclusivamente em 1991, destaca pequenos empregadores e categorias de trabalhadores intelectuais, tomadas em bloco, com as maiores densidades. Profissionais empregados de nível superior e professores de nível superior destacam-se entre os intelectuais. Considerando-se as categorias médias, as maiores densidades são das ocupações técnicas e das ocupações ligadas à saúde e à educação.

No médio heterogêneo (inferior), estão representadas, com maior significado, as categorias médias, entre elas as ocupações de escritório, as ocupações da saúde e da educação, bem como as ocupações da justiça, da segurança pública e dos correios, estas aparecendo com a maior densidade entre todas as CATs. Os prestadores de serviços especializados destacam-se entre as ocupações do Terciário. Finalmente, os trabalhadores do Tterciário não especializado, particularmente os prestadores de serviços não especializados, os ambulantes e os biscateiros, apresentam densidades superiores à média da região. Cabe acrescentar que, embora os intelectuais em bloco tenham densidade abaixo da média, os profissionais estatutários de nível superior estão bem situados, com representação 30% superior à média. Foi por essa razão, inclusive, que a denominação de médio heterogêneo dada a esse agrupamento pareceu adequar-se à configuração social que ali se expressa, ou seja, nele estão reunidas ocupações que falam sobre os vários degraus da hierarquia social.

O agrupamento médio emergente caracteriza-se por uma densidade significativa de camadas dirigentes, particularmente dos grandes empregadores, de pequenos empregadores e de categorias médias (sobretudo as médias “modernas”), com um perfil onde ainda se agrega o fato de os trabalhadores da indústria tradicional apresentarem algum destaque. A qualidade “emergente” fala da mudança que se verificou nessas áreas que, em 1991 faziam parte dos agrupamentos operários, mas já com uma presença relevante das categorias dirigentes. Pela mistura singular de categorias dirigentes e de operárias, poderia ser considerado um espaço de elite polarizado.

Em todos os tipos médios, as ocupações de escritório, que reúnem um conjunto bastante tradicional de atividades, encontram densidades praticamente iguais.

Investigando as mudanças que se verificaram, na década de 90, no perfil dos tipos médios, pode-se dizer, para começar, que foi muito significativo seu crescimento, pois eles mais que dobraram em população e ficaram com quase o dobro em termos de AEDs.

Por outro lado, somente o tipo médio superior aparece nos dois anos. Esse tipo, que perdeu áreas para o tipo superior, agregou outras, passando de sete AEDs para 12 entre 1991 e 2000.

Seu perfil tornou-se, no período, mais pesado em categorias intelectuais, dirigentes, médias “modernas” e pequenos empregadores, perdendo ocupados no Terciário não especializado, ou seja, tornou-se mais elitizado. A categoria que mais cresceu em participação foi a dos profissionais empregados de nível superior, seguida das ocupações técnicas, das ocupações ligadas à saúde e à educação e dos profissionais autônomos de nível superior. Em contraposição, as ocupações médias de escritório, os prestadores de serviços não especializados e, sobretudo, os trabalhadores domésticos reduziram sua participação no perfil do tipo.

Examinando a distribuição espacial das AEDs classificadas nos tipos médios, constata-se que, em Canoas, Gravataí e São Leopoldo, elas se localizam nos bairros mais centrais, não havendo mudança entre 1991 e 2000 na sua conformação territorial. Já em Porto Alegre, antes concentradas em bairros do entorno dos tipos superiores, em 2000 passaram a ocupar algumas AEDs mais periféricas, como as que correspondem aos Bairros Rubem Berta, Vila Nova, Belém Novo e Passo das Pedras. Em geral, avançam sobre espaços antes populares, expandido-se em todas as direções, sendo que, à leste, alcançam duas AEDs em Viamão, o Centro e Viamópolis.

Dentre os bairros do pólo metropolitano que experimentaram essa “ascensão”, é importante mencionar algumas situações onde essa mudança foi bastante significativa. O Bairro Passo das Pedras, ainda não delimitado oficialmente, assistiu, a partir dos anos 80, a um aumento de ocupações irregulares, sendo que atualmente nele ainda estão assentadas mais de 10 vilas, algumas em processo de regularização, caracterizando-se, portanto, como um espaço popular. Rubem Berta, bairro de configuração mais recente (criado em 1968), também é identificado como local de moradia de camadas populares. Essa região passou a ser densamente ocupada a partir da década de 60, abrigando mais de 20 vilas e muitos conjuntos habitacionais, envolvendo iniciativas do poder público, invasões, loteamentos privados e ocupações irregulares. Hoje é o bairro mais populoso da Capital e fica localizado no limite norte da cidade, onde faz divisa com o Município de Alvorada. Ao sul, tem como limite o Bairro Sarandi. Nota-se, com esses exemplos, que a periferia da cidade está sofrendo um processo de valorização imobiliária, que reduz crescentemente as possibilidades de acesso à moradia das camadas que estão na base da pirâmide social. Como já se mostrou em outros estudos, essa população, em grande parte, tem buscado residência em municípios limítrofes, fazendo, inclusive, crescer o volume da mobilidade pendular, ou seja, dos deslocamentos diários residência/trabalho (Jardim; Barcellos, 2006).

A expansão que se identificou nos tipos médios se deve, na verdade, sobretudo, à configuração de tipo médio heterogêneo, o que indica que o surgimento desse agrupamento, em 2000, manifesta uma mudança “positiva” na hierarquia socioespacial. É importante demarcar que esse movimento ascendente se verifica quase exclusivamente no pólo metropolitano, onde, pela concentração de serviços, equipamentos e infra-estrutura, a valorização do solo acaba por expulsar a população mais pobre.

As AEDs do tipo médio emergente, configuração também identificada somente em 2000, localizam-se no Município de Novo Hamburgo, correspondendo a quatro bairros: Centro, Ideal, Industrial e Operário. Em 1991, esses quatro bairros já denotavam processos significativos de mudança na sua estrutura socioespacial, integrando o tipo operário polarizado.

Observando os perfis das AEDs que compõem os agrupamentos médios, identificam-se algumas situações que merecem ser realçadas. Chama atenção, primeiramente, que o tipo médio heterogêneo é o que apresenta maior variação no perfil das áreas que o integram, ao que corresponde sua estrutura social bastante diferenciada, com se viu anteriormente.

Em segundo lugar, constata-se que, no grupo médio superior, em 1991, a AED POA48 Três Figueiras difere da conformação média, exibindo um perfil relativamente polarizado, com peso maior das camadas superiores e uma participação acima da média dos trabalhadores do Terciário não especializado. Nela, também a representação dos dirigentes é bem maior. Essa área de Porto Alegre tem sido foco de importantes investimentos imobiliários voltados para camadas de renda alta da população, a partir dos anos 80, e, em 2000, passou a compor o tipo superior médio.

Como terceiro ponto, ressaltam, no tipo médio superior, as situações, em 2000, do centro de Canoas, da AED POA08 Cristo Redentor e da área que inclui o Bairro Santo Antônio, ambas de Porto Alegre, cujas configurações expõem uma presença de categorias superiores mais significativa do que a média do grupo.

Finalmente, no tipo médio emergente, as quatro AEDs que o compõem, todas de Novo Hamburgo, têm estruturas socioocupacionais bastante diferenciadas, formando um grupo relativamente heterogêneo. Duas delas, inclusive, expõem proporções mais elevadas do que a média regional nas categorias operárias. Por outro lado, a AED que reúne os Bairros Centro, Hamburgo Velho, Rio Branco e São José apresenta um perfil próximo ao do tipo superior. Nessa área, a soma das categorias superiores e médias alcança quase 65%, padrão semelhante ao encontrado nos grupos dos tipos superiores.

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3.3 Tipos operários

Questões orientadoras para a análise: qual a importância das categorias operárias em áreas da Capital? Isso tem diminuído, ou não, visto que a cidade sofre processo de desindustrialização? Os operários ocupam espaços onde se misturam com que categorias? Com prestadores de serviços, especializados, ou não? Com camadas médias?

Nos tipos operários encontram-se cinco combinações de categorias, envolvendo, evidentemente, sempre os trabalhadores da indústria.

O tipo que é mais fortemente constituído como operário é o operário tradicional, que se caracteriza por uma densidade muito elevada dos trabalhadores da indústria tradicional, categoria que, no caso da RMPA, está representada, sobretudo, pelos operários do setor coureiro-calçadista. A densidade desses trabalhadores nessas áreas é quase quatro vezes maior que a média da Região em 1991, o que se torna ainda mais significativo em 2000, quando esse valor sobe para mais do que quatro vezes. Além desses trabalhadores somente os agricultores se destacam no tipo operário tradicional, onde encontram densidades bastante elevadas, mas cadentes no período analisado.

Outro tipo que aparece também claramente definido no conjunto operário é o que foi denominado operário moderno, em que o destaque fica com os trabalhadores da indústria moderna. Sua densidade, além de elevada, é ascendente, sendo que, em 2000, alcançou mais do que o dobro da média. Nesse tipo, a mistura com os operários dos serviços auxiliares é uma característica marcante nos dois anos. Em 1991, além dessas duas categorias, os ambulantes e os biscateiros estão também bem representados. Já em 2000, são os operários da construção civil que têm densidade elevada no tipo.

Uma primeira variante identificada no tipo operário tradicional e que aparece nos dois anos analisados é a que traz uma combinação de categorias situadas em pólos opostos da hierarquia socioocupacional: operários da indústria tradicional de um lado e camadas dirigentes do outro. São grandes empregadores e dirigentes do setor privado que se sobressaem entre os dirigentes, apontando uma configuração bastante particular, que aproxima a moradia de representantes do capital e do trabalho. Esse grupo foi denominado operário polarizado. Sua conformação é semelhante à do tipo superior emergente, porém com densidades bem mais altas dos operários e menores das categorias dirigentes e médias. A análise restrita às informações trazidas sob a forma de categorias socioocupacionais não evidencia uma mudança nesse padrão como seria o crescimento da presença de um desses pólos, o que poderia indicar mudança em direção a um tipo mais operário ou mais dirigente.

Uma segunda variante que se observou no tipo aparece somente em 1991 e articula a residência de trabalhadores da indústria tradicional com operários da construção civil. Por sua posição no espaço fatorial, muito próxima do conjunto das áreas populares, esse tipo levou a denominação de operário tradicional e popular.

O tipo operário moderno exibiu também subclassificações. Em uma delas os trabalhadores da indústria moderna aparecem junto com camadas populares, resultando no grupo que foi chamado de operário moderno e popular, que foi identificado nos dois anos. Na outra, encontrada somente em 2000, os operários dividem o espaço residencial com categorias médias, formando o tipo operário moderno médio. As ocupações técnicas e as ocupações médias da saúde e da educação são as que apresentam maiores densidades entre as categorias médias.

O perfil das áreas operárias sofreu algumas alterações que merecem ser destacadas.

O tipo operário moderno, que em 1991 era mais diversificado em termos sociais se torna mais homogeneamente operário, o que resulta do aumento do peso de categorias média em algumas áreas, que passaram a compor o tipo operário moderno médio em 2000. Já o perfil das áreas de tipo operário tradicional fica um pouco mais heterogêneo, já que os trabalhadores da indústria tradicional que representavam em 1991 47,5%, passam a ser 37,4% dos ocupados nelas residentes, em 2000.

O tipo operário moderno e popular ficou, entre 1991 e 2000, menos operário e mais popular, e o operário polarizado perdeu participação das elites e das camadas médias, aumentando a de operários modernos e a de serviços auxiliares e de categorias populares. Tal mudança, de certo modo, está ligada ao surgimento do tipo superior emergente, composto por AEDs que antes faziam parte desse agrupamento, alterando o balanço entre Cats situadas acima e abaixo na hierarquia socioocupacional.

Examinando individualmente o perfil socioocupacional das AEDs dos tipos operários, constatou-se que, no tipo operário moderno, em 1991, encontram-se algumas áreas onde o perfil não é típico. Isso acontece com muita intensidade na AED Algarve, de Alvorada, e no Bairro Rubem Berta, de Porto Alegre, sendo que, em ambas, as categorias que mais pesam na composição da estrutura social são as médias e as do Terciário especializado. Em 2000, esse tipo é mais homogêneo em termos da conformação socioocupacional de suas áreas. Também entre as áreas do tipo operário polarizado, podem-se identificar algumas heterogeneidades: são duas áreas que destoam do perfil majoritário do tipo, expondo baixas participação e densidade das categorias dirigentes, que são marcantes na sua definição. É o caso de Canudos, de Novo Hamburgo, e Scharlau, de São Leopoldo, em 1991, onde o destaque fica com as categorias médias. Em 2000, Santo Afonso, de Novo Hamburgo, e Santos Dumont, de São Leopoldo, apresentaram elevada participação dos trabalhadores do Terciário não especializado na estrutura social. Ainda se encontram diferenciais relevantes no perfil das áreas do tipo operário moderno médio e nas AEDs, cujo perfil combina a importância dos trabalhadores da indústria moderna com camadas populares em 2000. No primeiro conjunto, uma AED, correspondente ao Bairro Igara, de Canoas, os trabalhadores da indústria têm um peso bem menor, e os intelectuais e os dirigentes estão melhor representados do que na média do grupo. Em outras áreas, a participação dos trabalhadores do Terciário especializado é o destaque, comprometendo a caracterização do conjunto que se evidenciou como um tipo operário médio (Claret, em Esteio, Cohab/S.Jerônimo e Centro 2, em Gravataí, Tancredo Neves, em Cachoeirinha, e Jardim Atlântico, em Canoas). No tipo operário moderno e popular, diferem da configuração média as AEDs Feijó e Algarve, de Alvorada, e o Bairro Sarandi, de Porto Alegre, onde os trabalhadores da indústria moderna não se destacam como no restante do conjunto. Já as categorias do Terciário não especializado e do especializado aparecem com alta participação em todas as AEDs.

Em termos da localização desses tipos no território metropolitano, observa-se que as AEDs do tipo operário tradicional, bem como seus derivados, estão ao norte, no Vale do Sinos. Os tipos relacionados com a concentração de trabalhadores da indústria moderna estão distribuídos em áreas dos municípios do entorno de Porto Alegre, sobretudo os que têm uma produção industrial significativa, como Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e Sapucaia do Sul. Aparecem também em Esteio e, na modalidade que combina operários com categorias do Terciário não especializado, abrangem áreas de Alvorada, município sem tradição industrial, mas que, mais recentemente, recebeu algumas indústrias pequenas e médias no distrito industrial, que começou a receber plantas industriais nos últimos 15 anos. No pólo metropolitano, somente uma AED em cada ano foi classificada nos tipos operários, o que expressa a redução da participação da cidade na formação do produto industrial da região metropolitana (Alonso, 2001).

Entre 1991 e 2000, ampliou-se a abrangência das áreas do tipo operário tradicional, particularmente em Novo Hamburgo, onde avançou sobre uma área antes mais agrícola.

O tipo operário moderno, que reduziu seu tamanho, expandiu-se em São Leopoldo e Sapucaia do Sul, ocupando espaços antes mais misturados com camadas populares, e contraiu-se em Esteio, Canoas, Gravataí e Cachoeirinha, onde algumas AEDs subiram na hierarquia socioespacial com a presença mais forte de camadas médias. Em Canoas, foram as AEDs parcialmente correspondentes aos Bairros Jardim Atlântico, Harmonia, Chácara Barreto e Igara que experimentaram essa mudança. Em Gravataí, foram as AEDs formadas com partes das Regiões de Orçamento Participativo Cohab/São Jerônimo, Centro, São Geraldo e Moradas/Águas Claras. Em Cachoeirinha, isso se verificou em todas as AEDs que compunham o tipo operário moderno (Bairros Tancredo Neves, Matriz/Atlântico, Distrito Industrial/Veranópolis, e Imbuí/Wilkens).

As AEDs de tipo operário polarizado diminuíram no período, na medida em que perderam espaços que subiram na hierarquia socioespacial, configurando o tipo superior emergente. Os Bairros Operário, Ideal, Industrial e Centro foram o foco dessa mudança.

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3.4 Tipos populares

Questões orientadoras para a análise: tendo em vista o aumento da importância das ocupações “terciárias” em grandes aglomerações urbanas, existe algum tipo que apresente densidade dessas ocupações? As áreas populares coincidem até que ponto com concentrações de “terreno não próprio”? E as políticas de regularização, sobretudo em Porto Alegre, alteraram a qualidade dos assentamentos? Houve periferização da moradia popular no período? Para onde, que áreas, em que municípios, combinados com que categorias?

Num primeiro olhar para o conjunto dos tipos populares, nos dois anos analisados, pode-se ver claramente que nele estão os espaços onde há maior concentração de categorias do Terciário não especializado, que se misturam em algumas variantes com camadas médias, em outras, com agricultores e sempre com trabalhadores do Terciário especializado e com algumas categorias do operariado, particularmente com os operários da construção civil.

O tipo popular mais característico em termos de sua configuração social apareceu em 2000. Trata-se de uma combinação clássica de trabalhadores não especializados com operários da construção que, considerados em conjunto, representam 38% dos residentes nas áreas desse tipo, apresentando uma densidade de quase o dobro da média.

O tipo popular de 1991 agrega às características de concentração de camadas populares a presença, com algum significado, dos agricultores, que, em termos de densidade, estão 40% acima da média. Sua participação na estrutura social do tipo é pequena, mas supera seu peso na estrutura média regional.

Uma variante desse tipo — denominada tipo popular e médio — aparece exclusivamente em 1991 e agrega às categorias do Terciário não especializado algumas ocupações que integram as camadas médias, tais como as de escritório, as da saúde e da educação, as da justiça, dos correios e da segurança. Também ocupações do Terciário especializado são significativas na conformação desse tipo.

O tipo popular apresenta-se, ainda, com outra combinação de categorias, resultando no tipo popular e agrícola, que foi identificado em 2000, reunindo, substancialmente, camadas populares e agricultores. De maneira muito mais intensa do que se verificou em 1991, os agricultores mostram uma densidade três vezes e meia superior à média regional.

Diante dessa evidência, buscou-se verificar se estaria havendo um aumento da importância da agropecuária na RMPA.

Dados relativos ao Valor Adicionado Bruto regional apontam o contrário, ou seja, o peso da agropecuária na composição do produto estadual é pequeno e cai consideravelmente entre 1990 e 1998 (de 3,13% passa para 2,07%, conforme FEEDADOS). Do ponto de vista da estrutura produtiva, constata-se que, em alguns municípios, a agropecuária tem uma participação importante na formação do produto, especialmente em Glorinha e Viamão, onde, em 1998, atingiu 32,73% e 12,82% respectivamente. Não obstante, em relação ao início do período, houve redução da importância desse setor em favor do Setor Serviços.

Por outro lado, é importante registrar que a atividade agropecuária vem sofrendo interferências de alguns projetos implementados, nas últimas décadas, na RMPA. Primeiramente, apareceu a instalação, entre 1987 e 2001, de nove assentamentos de agricultores sem terra, o que se verificou em Viamão, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita e Guaíba, totalizando 763 famílias ( em 23.08.2007), o que, evidentemente, produziu um impacto considerável na área. Junto com isso, novas alternativas de produção se desenvolveram, particularmente a lavoura de arroz orgânico, que envolveu 150 famílias assentadas, com o uso de 20% da terra cultivada da região (Pelo..., 2007).[6] Exemplo dessas iniciativas foi a exportação, para os Estados Unidos, de arroz orgânico produzido pela Cooperativa de Produtos Agropecuários de Nova Santa Rita (MST..., 2007).[7]

Também relacionado com o tema dos alimentos orgânicos, verifica-se, segundo estudo elaborado por Schultz, Pedrozo e Nascimento (2002), uma cadeia unindo produção e comercialização, funcionando na Região. A Feira da Agricultura Ecológica que se realiza em Porto Alegre, aos sábados, no Bairro Bom Fim é o principal ponto de comercialização para agentes que formam as principais cadeias produtivas de alimentos orgânicos no Município. “Este espaço de comercialização foi pioneiro em Porto Alegre e no Estado e reúne os grupos agroecologistas mais representativos do setor de alimentos orgânicos, além de possuir uma ampla diversidade de produtos, tanto in natura como industrializados, e um grande volume de comercialização. Nesta feira livre foram identificados 31 agentes (cooperativas, associações e produtores individuais) que possuem bancas de comercialização de produtos orgânicos.” Esses produtores são provenientes de vários municípios do Estado, incluindo, o pólo metropolitano.

Em segundo lugar, foram localizadas quatro experiências de “agricultura urbana” na capital gaúcha, financiadas pela Prefeitura Municipal com recursos do Orçamento Participativo. Abrangem a produção de peixe, mel, a suinocultura e, ainda, o turismo rural.[8] Não se pode ignorar o fato de que a Capital é a segunda no País em área rural, que representa 30,56% da área total do Município.[9] Desses espaços rurais, 60% são utilizados para horticultura, fruticultura e pecuária. Segundo as estatísticas da Emater, de 2002, existem cerca de 600 agricultores na região, dedicando-se ao cultivo de ameixas, flores, pêssegos, dentre outros (Saulière, s.d.)

É interessante registrar que existe um movimento de preservação das áreas rurais de Porto Alegre (Movimento Ambientalista os Verdes Tapes), que chama atenção para a necessidade de manutenção dos mananciais hídricos tributários do Guaíba, que abastece a população com água potável; da produção local de alimentos; do turismo em Porto Alegre[10] e todos os empregos que ele gera e pode gerar; dos meios de sobrevivência econômica de mais de 2.000 famílias hoje filiadas ao Sindicato Rural de Porto Alegre; das florestas que mantêm o equilíbrio climático na cidade; das espécies da fauna e da flora nativas que ainda resistem em certas regiões do Município; dos sistemas tradicionais de conhecimento local de agricultores, pescadores e usuários de plantas medicinais (Wandam, s.d.).

Outro município metropolitano que tem extensa área rural é Viamão, onde a atividade agropecuária ocupa 82,78% do território. Recentemente, a Prefeitura Municipal assinou convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para a elaboração de um Plano de Desenvolvimento, denominado Viamão mais Vinte, com os objetivos de reduzir as desigualdades sociais e buscar uma integração da atividade primária com a produção industrial. O principal produto agrícola da região é o arroz, com uma participação de 23% da agricultura local, sendo que aproximadamente 20% da sua produção é beneficiado em engenhos localizados no próprio município. Também o milho, o feijão e os produtos hortifrutigranjeiros fazem parte da produção agrícola local. Na pecuária destacam-se os rebanhos de bovinos e ovinos e a presença da bacia leiteira mais importante da região. O Município é sede, inclusive, da úni ca usina de leite A do Estado. A piscicultura para consumo é expressiva, encontrando-se, em Águas Belas, unidades de pesquisa em piscicultura e ervas medicinais mantidas pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO). Viamão possui, ainda, várias áreas de lazer náutico e junto da natureza (http://www.cidadesdobrasil.com.br).

Tendo em vista o desenvolvimento de projetos interessantes com foco nos segmentos agropecuários que incidem em AEDs do tipo popular e agrícola, podem-se fazer algumas inferências. Embora não esteja havendo um crescimento da participação do produto agropecuário metropolitano na composição do produto estadual, nem mudança significativa no peso do setor agropecuário na estrutura produtiva dos municípios da Região, esta vem mantendo um espaço importante para atividades relacionadas com esse setor. Ao que parece, as iniciativas que vêm sendo implementadas têm um potencial renovador da produção agropecuária no espaço metropolitano, como é o caso da agricultura orgânica e do turismo rural.

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3.5 Tipo agrícola popular

As áreas desse tipo na RMPA caracterizam-se pela elevada densidade dos agricultores que nelas estão representados 15 vezes a mais do que na média da região em 2000. Essa densidade não encontra paralelo em nenhuma outra categoria socioocupacional, sendo que a segunda maior densidade, a dos operários tradicionais, no tipo operário tradicional, era quatro vezes o valor da média. Ainda na configuração deste tipo assumem importância as categorias do Terciário não especializado, que superam em 40% a densidade média metropolitana. Todas as demais categorias estão subrepresentadas no tipo.

Essas áreas coincidem com os espaços rurais da Região, compreendendo os Municípios de Glorinha, Triunfo, e grandes parcelas dos territórios de Gravataí e Viamão. Em 1991, abrangiam, ainda, o distrito rural de Novo Hamburgo e o extremo-sul de Porto Alegre.

Analisando-se as áreas que compõem esse agrupamento, dois resultados merecem destaque. Em primeiro lugar, duas AEDs deixaram de fazer parte do grupo em 2000, tendo nelas se reduzido à metade a densidade dos agricultores (AED POA40 Ponta Grossa, que, em 2000, compõe o grupo dos populares e agrícolas, e AED NHAM09 LOMBA GRANDE, que passou para o tipo operário tradicional). Um segundo ponto é o fato de que, dentre as cinco AEDs que em 2000 se mantiveram no tipo agrícola popular, Glorinha foi a única que teve uma alteração significativa na sua configuração. Nesse caso, os agricultores perderam quase 50% da sua densidade (passando de 34,2 para 16,2 entre um ano e outro), e, os trabalhadores do Terciário não especializado ganharam na mesma proporção, embora em grandeza menor (de 0,9 para 1,8). Isso, porém, não alterou seu enquadramento, mas apenas equiparou o perfil de Glorinha ao dos demais componentes do tipo agrícola popular (com densidades de agricultores variando entre 11,5 e 19,0 e do Terciário não especializado oscilando entre 1,1 e 1,8).

Em termos gerais, o perfil socioocupacional do grupo sofreu pequenas modificações entre 1991 e 2000, no sentido de que caiu a participação dos agricultores de 24,9% para 20,6% e subiu a dos trabalhadores do Terciário não especializado, cujo peso na conformação do tipo passou de 28% para 30,5%. O aumento da importância das camadas populares nesse tipo ocorreu, sobretudo, por conta de Glorinha, onde elas, de 18%, atingiram 40% entre um ano e outro.

Cabe registrar que, mesmo os agricultores tendo perdido posição nesse grupo, que é o mais agrícola de todos, ainda assim seu peso na configuração é muito elevado, tendo em vista seu significado na média metropolitana, onde ele se mantém em torno de 1,5% nos dois anos analisados.

Apesar de ser muito grande a parte rural do território metropolitano, é ínfima a participação dos ocupados no segmento agropecuário na conformação da estrutura socioocupacional da região. Sendo assim, a pergunta gira em torno dos fatores que alimentariam a persistência desses espaços de tipo agrícola popular na RMPA.

Antes de tudo, enfatiza-se que, embora a contribuição da produção agropecuária metropolitana seja pequena na formação do produto estadual, alguns produtos, em alguns municípios, têm se mantido relevantes. É o caso, por exemplo, da produção de arroz em Viamão, que representava, em 2000, 1,80% da produção estadual (FEEDADOS), ficando, também nesse ano, na décima oitava posição no ranking dos municípios gaúchos em toneladas produzidas. Os volumes do produto originados no Município são bastante significativos quando comparados com a produção dos que são os maiores municípios produtores. Em relação à Santa Vitória do Palmar, primeiro em quantidade produzida, o resultado de Viamão supera os 20%.

Além disso, essa importância dos espaços rurais da Região também pode ser detectada em outras áreas da produção. Em Glorinha e Viamão encontram-se importantes cabanhas de caprinos e de eqüinos, que participam da exposição internacional de produtos agropecuários (a Expointer), onde alguns de seus animais têm sido premiados. A criação de galinhas no Município de Viamão aumentou sua contribuição, entre 1996 e 2000, de 12,81% para 15,58% do total do Estado.

O turismo rural é uma atividade que vem se expandindo na Região, atividade que aparece tanto no formato de hotel-fazenda como no turismo de aventura (trilhas, circuitos ciclísticos e motociclísticos, etc.). Proliferam, ainda, os sítios de lazer que atendem ao apelo do contato com a natureza como critério de qualidade de vida. Viamão, Gravataí e Glorinha despontam como lugares ideais para esse tipo de empreendimento, principalmente tendo em vista a facilidade de acesso a centros urbanos e pela beleza natural.

Um sintoma da importância que os espaços rurais assumem na Região é a existência do Fórum de Desenvolvimento Rural da Região Metropolitana e Delta do Jacuí, instalado em 2001, reunindo áreas que extravasam as AEDs de tipo agrícola popular. Além de Glorinha, Gravataí e Triunfo, inclui Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Guaíba.

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4 Distribuição geográfica da tipologia socioespacial [11]

Esta seção tem o objetivo de analisar, de modo preliminar, a distribuição espacial das tipologias socioespaciais na RMPA, nos anos de 1991 e 2000. Para tanto, foram utilizadas técnicas de análise espacial, mais especificamente, com o aporte da estatística espacial, que visam identificar as características espaciais das distribuições em tela.[12] Em suma, essas técnicas buscam responder, particularmente, a seguinte questão referente aos grandes grupos de tipos (superiores, médios, operários, populares e agrícolas): como cada um dos grupos se dispersa em volta do centro geográfico?

Através dessas técnicas, além de identificar as tendências de distribuição espacial, pode-se efetuar a comparação da distribuição dos diferentes grupos de tipos e, também, verificar as modificações sofridas no tempo. Em termos específicos, utiliza-se a técnica das elipses de distribuição direcional (ou elipses de desvio padrão), uma medida de dispersão espacial de dados geográficos, que proporcionam o conhecimento do comportamento geral da distribuição espacial, de um lado, na sua densidade (ou compacidade) e, de outro, na sua orientação. A técnica, portanto, indica a localização geral da concentração dos tipos no espaço e, também, a orientação geral da distribuição espacial nos diferentes anos.

Na Figura 13 observam-se as elipses de distribuição direcional dos grandes grupos da tipologia: superiores, médios, operários, populares e agrícolas. Nessa figura, destaca-se a grande dispersão do grupo dos agrícolas, maiores elipses nos dois anos do período analisado; entretanto essa conclusão é precipitada somente observando as respectivas elipses. Em verdade, o que ocorre é que os tipos agrícolas estão localizados nos extremos da RMPA, tanto a leste (AEDs dos municípios, por exemplo, de Glorinha, Viamão e Gravataí, e uma AED de Porto Alegre) quanto a oeste (AED do Município de Triunfo), enquanto, no centro da Região, não há AEDs desse tipo. Ao mesmo tempo, verifica-se que os tipos superiores são aqueles mais concentrados; especialmente concentrados nas AEDs pertencentes ao Município de Porto Alegre. Para melhor analisar os tipos, vejam-se as próximas figuras.

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4.1 Tipos superiores

As elipses de distribuição direcional dos tipos superiores (Figura 14) estão localizadas (concentradas) na porção central da RMPA, no período analisado. Para os anos de 1991 e 2000, verificam-se comportamentos muito semelhantes com respeito à distribuição espacial: a maior parcela dos ocupados nesse tipo está localizada na capital gaúcha; além desta, o tipo está presente em uma AED do Município de São Leopoldo. O que é interessante ressaltar é o deslocamento, em termos gerais, da distribuição no período analisado, isso se pode perceber, mais facilmente, na mudança de localização dos centros das elipses (ou centros médios): entre 1991 e 2000, o centro desloca-se, aproximadamente, 2,2km no sentido sul. Em outras palavras, esse fato indica que os tipos superiores, de modo geral, se deslocaram, entre 1991 e 2000, levemente para o sul. Destaca-se que as distribuições espaciais, nos diferentes anos, são muito semelhantes, como comprovam esse pequeno deslocamento dos centros e a quase coincidência das elipses. Além disso, pode-se verificar um eixo direcional da distribuição espacial das informações bem marcado, em ambos os anos, na direção norte-nordeste e sul-sudoeste.

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4.2 Tipos médios

A distribuição espacial dos tipos médios, observada nas elipses de distribuição direcional (Figura 15), mostra que estes estão, especialmente, dispersos na porção central da RMPA. A maior parcela das AEDs desse tipo, em 1991 e 2000, está situada na municipalidade de Porto Alegre; além desta, esse tipo encontra-se em AEDs dos municípios de Viamão, Gravataí, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Em termos genéricos, verifica-se que esse tipo se apresenta mais disperso no ano 2000 em comparação ao de 1991; resultado da redução da área da elipse de 1991 frente à elipse de 2000.

Quanto aos centros médios das elipses, observa-se que o centro se desloca, aproximadamente, em 2,6km no sentido norte-nordeste, contrariamente ao comportamento dos tipos superiores visto anteriormente. Por outro lado, pode-se observar que há uma mudança tênue na direção dos eixos direcionais de distribuição espacial nos dois anos analisados: em 1991, o eixo está na direção norte-nordeste e sul-sudoeste e, em 2000, situa-se na direção quase norte-sul.

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4.3 Tipos operários

Na Figura 16, observam-se as elipses de distribuição dos tipos operários, localizadas na porção central e superior da RMPA. Esse tipo está distribuído nos municípios da região norte da RMPA (o Vale do Sinos) até as AEDs situadas no limite entre Porto Alegre e Alvorada; além desses, há duas AEDs do Município de Guaíba que são do tipo operário, o que causa, em certa medida, um viés nas elipses, em razão de essas AEDs estarem afastadas das restantes que são do mesmo tipo. O deslocamento dos centros das elipses entre 1991 e 2000, ou seja, o deslocamento geral do operariado, é no sentido sul-sudoeste e de apenas 1,4km, muito menor do que os anteriores (tipos superiores e médios). Além disso, as elipses de ambos os anos são quase coincidentes. Juntando esses dois fatos (deslocamento pequeno e elipses coincidentes), concluí-se que, entre 1991 e 2000, houve pouca mudança em termos das respectivas distribuições espaciais. Adicionalmente, os eixos direcionais das distribuições, em 1991 e 2000, estão quase na mesma direção, qual seja, norte-nordeste.

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4.4 Tipos populares

Por fim, a Figura 17 mostra que os tipos populares estão distribuídos, principalmente, no Município de Porto Alegre e no seu entorno. Verifica-se que ocorre uma sensível dispersão desse tipo, ao longo do período analisado, sobretudo, no sentido leste-sudeste. Isso se observa, também, a partir do deslocamento dos centros das elipses, nesse mesmo sentido, de 2,2km. Além disso, reforçando a tendência de certa dispersão dos tipos populares, percebe-se que as elipses não apresentam eixos direcionais bem nítidos (as elipses são quase circulares), ou seja, ocorre um espalhamento em quase todas as direções.

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4.5 Tipo agrícola popular

Tendo em vista sua grande dispersão pelo território metropolitano, não foi necessário fazer um mapa específico desse tipo.

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[1] O Relatório 4, produzido por Iván G. Peyré Tartaruga, contém uma descrição do trabalho metodológico de construção das tipologias.

[2] O trabalho estatístico de Análise Fatorial e Classificação Hierárquica Ascendente, usando o programa StatLab, foi realizado pelo Geógrafo Ivan G. Peyré Tartaruga e pela Arquiteta Urbanista Mirian Regina Koch. O acadêmico em Geografia, Rodrigo Aguiar também colaborou na elaboração dos mapas.

[3] Mais adiante, essas cinco classificações serão, também, denominadas “famílias” de tipos.

[4] O contêm O detalhamento dos dados que dizem respeito a esses resultados constam dos Apêndices 2.1 até o Apêndice 2.4.

[5] Apêndice 2.1, Apêndice 2.2, Apêndice 2.3, Apêndice 2.4, Apêndice 2.5, Apêndice 2.6 e Apêndice 2.7.

[6] Informações obtidas em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=26868, em 28.08.07.

[7] Outra fonte, http://www.estadao.com.br/economia/not_eco19184,0.htm, em 28.08.07, aponta que o primeiro carregamento, de 40 toneladas, foi despachado para Chicago, Illinois, onde funciona uma central de distribuição de produtos orgânicos. O arroz dos assentados gaúchos saiu dos banhados ao redor de Porto Alegre sem nenhum agrotóxico. Embora com menor produtividade do que a das plantações com herbicidas e adubos químicos, apresentava a vantagem de proteger os rios do despejo de produtos químicos e de preservar a saúde dos agricultores, que não ficavam expostos aos venenos. Além disso, os custos eram menores. Experiências semelhantes ocorreram em outros cinco assentamentos na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os assentados vendiam sua safra para o Governo, que utiliza o arroz na merenda escolar, em restaurantes e no Mercado Municipal de Porto Alegre. A venda para os EUA foi articulada por uma exportadora especializada em orgânicos.

[8] A experiência de piscicultura foi levada pela Cooperativa de Pescadores, de Produção e Prestação de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Coopeixe), criada em 1999 pelos pescadores das ilhas (Ilha da Pintada e outras) e que hoje conta com 230 sócios. Com relação à produção de mel, a experiência foi levada pela Associação Gaúcha de Apicultores (AGA), que existe há 40 anos e tem atualmente 80 sócios. Embora vivendo em Porto Alegre, muitos dos apicultores desenvolvem suas atividades no interior do Estado. No caso da suinocultura, a Associação dos Criadores de Porcos associou-se a um projeto do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre para introduzir práticas adequadas de armazenamento de resíduos orgânicos para alimentação dos animais, com contrapartidas em termos de fornecimento de alimentos não perecíveis para creches da capital. Finalmente, a experiência envolvendo o turismo rural foi proposta pela Associação Comunitária do Bairro Belém Velho, através do desenvolvimento de um projeto de turismo rural, que inclui caminhadas pela região e visitas a granjas agrícolas.

[9] Pela Lei Complementar nº 434, de 1999, a totalidade do território de Porto Alegre ficou definida como urbano.

[10] Em novembro de 2005, foi lançado, em parceria com a Emater-RS e o apoio do Senar-RS, um roteiro turístico rural em Porto Alegre, denominado Caminhos Rurais, abrangendo áreas distantes cerca de 40 minutos do centro urbano da Capital, integrando os Bairros Belém Novo, Belém Velho, Lami, Vila Nova, Restinga, Ipanema, Lageado, Cascata, Hípica e Lomba do Pinheiro. Juntos, eles ocupam 30% do território de Porto Alegre, de 476 km2. Também no Município de Dois Irmãos, existe iniciativa nesse sentido, denominado Projeto Rota Colonial (Fialho, s.d.).

[11] Realizado por Iván G. Peyré Tartaruga Ver Relatório 5, no qual estão as orientações metodológicas das técnicas utilizadas nesta seção.

[12] a realização dessas análises, foi utilizado o software ArcGIS 9.2.